29 de janeiro de 2006

A CONSTITUIÇÃO E A LEI

Duas mulheres portuguesas preparam-se para desafiar a lei e pedir (repito, pedir, e com pouca esperança) que a Constituição da República Portuguesa se cumpra no que toca à não-discriminação pela orientação sexual. Este movimento de questionamento sobre a justiça veio do interior de um partido (dos que vivem do dinheiro dos contribuintes)? Do interior da Assembleia da República? Das eminências pardas que, diária ou semanalmente, nos dizem pela televisão o que pensar? Não. Veio de duas mulheres que sentem na pele o que é estar condenada a ser cidadão de segunda. À invisibilidade. Ainda por cima (pelo que se viu na reportagem da Sic) não são provenientes de uma classe particularmente instruida ou economicamente saudável. São duas mulheres, iguais aos outros não sei quantos milhões delas, que querem existir. Será naturalmente o princípio de uma batalha que é capaz de nem ir longe. Por agora. Sempre foi assim.
Sabem por que razão os supra-citados representantes não mexem no assunto? Porque eles próprios não concordam. Basta jantar, tomar um copo numa ocasião não-oficial, para que a homofobia salte. Mesmo dos gays (não-assumidos, claro) eleitos. Mulheres juntas, só em filmes porno, e mesmo assim, para dar tusa aos homens.
Às vezes dá vontade de lhes gritar que mexam esses cus inúteis ( falo em sentido metafórico) e que defendam quem os elegeu. Todos os que os elegeram. Que parem de lamber as cruzes a quem usa o dinheiro para mexer os cordelinhos e que cumpram o seu dever.
O dever para com mulheres e homens que moram nos subúrbios, ou nas cidades de província. Que dizem "prontos" e passam os domingos nos hipermercados. Mas que nem assim (ou por isso mesmo) deveriam alguma vez ser tratados como gente descartável.

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